Repressão às drogas está na origem do narcotráfico, dizem pesquisadores

{ Posted on 15:10 by Ganja Man }
Foi ao longo do século XX que os Estados Unidos assumiram a dianteira da cruzada antidrogas, impondo aos demais países na Europa e na América convenções que dariam origem à chamada guerra às drogas. Para especialistas, esta política do “proibicionismo” está na origem do comércio ilegal destas substâncias, mais tarde chamado de narcotráfico.
“O que é chamado hoje de tráfico clandestino de drogas é decorrência da proibição. Proíba-se o tabaco ou chocolate, e haverá tráfico de tabaco e de chocolate”, afirma o historiador pela USP Henrique Carneiro, pesquisador de História da Alimentação, das Bebidas e das Drogas. Para ele, o narcotráfico é “um subproduto da proibição, que aumentou a renda desse fluxo comercial ao torná-lo proibido”.
“A lógica é simples: tem gente desejando um produto. À medida que se proíbe, se alimenta esse mercado [ilícito]. O cigarro, por exemplo, é uma droga legal, mas, na Europa, em que os impostos são muito altos para desestimular o hábito de fumar, há um mercado ilícito. Esse tipo de mercado está sempre relacionado a graus de controle”, diz o pesquisador do Núcleo de de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (Neip), Thiago Rodrigues, autor de “Narcotráfico – uma guerra na guerra” (Ed. Desatino).
No livro, o autor relaciona algumas das leis e convenções que limitaram o acesso a estas substâncias até a posterior proibição. Um dos primeiros, o Food and Drug Act americano (Lei Federal sobre Alimentos e Drogas), de 1906, ainda não instituía a proibição, mas regulamentava a produção e venda, inaugurando a intervenção governamental no tema. Com a aprovação nos EUA da Lei Seca, em 1919, segundo o autor, brotariam as organizações ilegais que se dedicariam a suprir o mercado ilícito de álcool, como as máfias. “A revogação da Lei Seca, em 1933, não significou um retrocesso nas políticas repressoras do governo. Ao contrário, a relegalização do álcool foi acompanhada pelo endurecimento das medidas legais sobre psicoativos já proibidos, como a cocaína, e outros que não sofriam restrições diretas, como a maconha”, escreve no livro.Mas foi a convenção internacional realizada pela Organização das Nações Unidas em 1961 que estabeleceu as regras que pautariam as políticas sobre drogas em vários países. O critério era proibir drogas que não tinha uso médico. As substâncias que não foram consideradas como de uso médico passaram, a partir de então, a ter seu uso proibido ou submetido a controle. “A partir daí, países que foram assinando, incluindo o Brasil, passaram a se organizar a partir deste tratado internacional. Depois, a Convenção de Viena em 1988 deu as bases para o regime legal das drogas. Esta convenção foi renovada em março, em Viena, e mantém as listas e substâncias que são totalmente banidas continuam sendo alvo da guerra às drogas”, disse. A chamada “guerra às drogas” foi declarada pelo então presidente dos EUA Richard Nixon em 1972, fortalecendo assim a deflagração explícita de combate ao tráfico, com operações internacionais de alcance cada vez maior.


Brasil
A guerra norte-americana ao tráfico assume características ainda mais rigorosas com a queda do Muro de Berlim, em 1989. O vácuo deixado pelo fim do perigo comunista foi gradativamente ocupado pela ameaça do narcotráfico.
Sob a influência dos EUA, a política de repressão brasileira passou a mandar para a mesma prisão guerrilheiros de esquerda e também seqüestradores ou assaltantes sem qualquer vínculo político. Segundo Rodrigues, foi neste contexto que surgiu a Falange Vermelha, mais tarde rebatizada de Comando Vermelho (uma referência aos companheiros de cela marxistas), uma das primeiras organizações a se estruturar como empresa do tráfico no Rio de Janeiro. A esta altura, o país já despontava não mais como corredor para o tráfico internacional de drogas, mas como um grande mercado produtor e consumidor. Tendência esta que se repetiu nos demais países latino-americanos, que eram até então considerados de passagem, segundo o pesquisador do Neip. “O Brasil, além de mercado importante, tem uma expressividade na produção de algumas drogas. Parte da maconha consumida no Brasil é produto brasileiro, principalmente vinda do chamado polígono da maconha, e também de outras substâncias, principalmente sintéticas, que podem ser produzidas num ambiente urbano, não são um agrobusiness”, diz Thiago Rodrigues.

Descriminalização x legalização
O surgimento de organizações como a Comissão Latino-Americana sobre Drogars e Democracia, que reúne entre seus membros ex-presidentes de países latinos, e revisões nas leis antidrogas de vários países, como Colômbia, Argentina e México apontam para um esgotamento da guerra às drogas.
Para o historiador Henrique Carneiro, no entanto, as medidas adotadas até agora são ainda “paliativas”. “Elas limitam o processo de criminalização aos meros consumidores, mas continuam deixando o problema do abastecimento irresolvido. A atitude que acho que seria mais coerente seria a legalização de todas as substancias, com formas diferenciadas de acesso.” Na opinião de Thiago Rodrigues, a discussão atual sobre o combate ao comércio ilegal de drogas deve passar por um reconhecimento da associação entre repressão e narcotráfico. “A partir daí, vão se derrubar preconceitos, idéias fixas a respeito disso, verdades construídas ao longo das ultimas décadas, que impedem que as pessoas pensem sem muitas amarras a respeito do tema. Se não houver essa disponibilidade, a gente vai continuar tendo facções criminosas e balas perdidas.”

fonte: http://g1.com.br

1 Response to "Repressão às drogas está na origem do narcotráfico, dizem pesquisadores"

vamos juntos lutar contra esse preconceito ...
muito legal sua iniciativa de fazer esse blog ..
amo maconha ela mudou minha vida ....
abriu minha cabeça sobre muitas coisas ....
me ensinou a ser uma pessoa melhor

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